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HOJE, 17 DE SETEMBRO, É O DIA INTERNACIONAL DO MICRO-ORGANISMO!


Por Célia Manaia

Apesar da sua aparente simplicidade, muitos microrganismos são verdadeiros canivetes suíços com múltiplos componentes que podem ser utilizados para os mais diversos fins.

É altura de dar a conhecer um mundo invisível, dominado por pequenas mas poderosas criaturas, a que, em estilo coloquial, podemos chamar micróbios. Vistos durante anos como ameaças terríveis, os micróbios são hoje vistos como elementos-chave da Biodiversidade e, claro está, da almejada sustentabilidade ambiental.

17 de setembro foi a data escolhida para celebrar o dia Internacional do Microrganismo, visto ser a data em que no ano de 1683, o cientista holandês Anton van Leeuwenhoek escreveu à Real Sociedade de Londres, informando ter observado seres microscópicos, extremamente simples, então designados animálculos. Estavam lançadas as bases para perceber que os microrganismos poderiam explicar muitos fenómenos atribuídos à magia ou a poderes divinos.

Hoje sabemos que provavelmente sem microrganismos não existiria vida no nosso planeta.

Os microrganismos terão sido os primeiros habitantes da Terra, que ao longo de milhares e milhares de anos deram origem e suportaram toda a profusa biodiversidade que hoje conhecemos. Por exemplo, serão testemunhos dessa antiguidade, os exóticos micróbios termofílicos – que vivem em fontes termais abissais em que a água atinge temperaturas acima dos 120ºC –, sendo possíveis descendentes do tempo em que a Terra era um planeta hostil à vida, coberto de água a ferver e com uma atmosfera asfixiante. Mas não foi nem a antiguidade nem o exotismo que colocaram os microrganismos em destaque em várias etapas da História da humanidade. Foi, antes, o efeito devastador de várias e recorrentes pestes e epidemias microbianas, como a peste negra, a cólera ou a sida, para citar apenas alguns exemplos.

Porém, ao longo das últimas décadas, tem-se vindo a reconhecer que apenas uma minoria de microrganismos pode ser nociva. Hoje sabemos que a sua presença nos solos e raízes é fundamental para assegurar uma boa produção agrícola. E a demonstração de que temos tantas células microbianas como humanas no nosso corpo veio revolucionar a visão do funcionamento do corpo humano. Sabemos hoje que desde o trato gastrointestinal, ao sistema imunitário, ou até mesmo o comportamento, são fortemente influenciados pela ação microbiana. Acumulam-se os trabalhos que demonstram que o microbioma, ou seja o conjunto de milhares de espécies que habitam o nosso intestino, tem um papel central no desenvolvimento e função cerebral. Ou ainda, os trabalhos que mostram a importância da manutenção do microbioma intestinal para uma adequada terapia oncológica.

Apesar da sua aparente simplicidade, muitos microrganismos são verdadeiros canivetes suíços com múltiplos componentes que podem ser utilizados para os mais diversos fins. Muitos destes componentes microbiológicos têm vindo a ser explorados pela indústria farmacêutica e vieram revolucionar a nossa vida em vários domínios. Por exemplo, foi graças a uma dessas componentes (uma polimerase de ADN) que desde há cerca de 30 anos se tornou possível policopiar material genético no laboratório, técnica utilizada em diagnóstico médico ou em investigação forense, e na geração de prova judicial.

Outros componentes de origem microbiana (os sistemas CRISPR-Cas), muito estudados ao longo da última década, permitem reescrever informação genética. Esta técnica promete revolucionar a engenharia genética com implicações na agricultura, na indústria ou na medicina. Por exemplo, a precisão e eficácia com que os sistemas CRISPR-Cas podem permitir diagnosticar e corrigir mutações genéticas cancerosas pode revolucionar, no futuro, o impacto que as doenças oncológicas têm hoje na humanidade.

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